Percebo uma diferença entre a tristeza que costumo sentir e esta que agora me acomete. Por não ser comum, por não apontar para os mesmos velhos calos que me dóem, por estar acima dessa, como que acompanhada de uma nova descoberta. Antes de olhar para mim, observo o que está lá fora. Meu entorno, meus semelhantes. As pessoas passam suas vidas sofrendo exatamente pelos mesmos problemas. Podem mudar um pouco a roupagem, mas não se modificam em sua essência. É a compulsão a repetir sempre o mesmo caminho, o caminho da dor já trilhado. Quando o acaso produz o encontro entre pessoas que podem fazer a diferença na vida uma da outra, o vício se encarrega de criar atritos entre elas, para que jamais continuem unidas, para que não corram o terrível risco de colherem frutos dessa renovação, dessa lucidez. Para que possam permanecer exatamente iguais e jamais aprendam com a experiência. É disto que trata a mágoa que agora sinto: do meu vício, meu pior inimigo. Imagino que alguns afortunados consigam dominá-lo mais cedo, por sorte, por mérito. Ocorre que, depois de um certo tempo, se não é vencido, é ele quem me vence. Este animal sorrateiro, silencioso, sempre pronto a destilar seu veneno na minha esperança. Terei eu a chance de superá-lo um dia? Hoje penso que não, mas quem sabe amanhã acorde mais otimista.