quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

once upon a time...

...uma menina que sonhava com mil histórias, e queria contá-las para o mundo. Um dia ela descobriu que só conseguiria escrevê-las quando tivesse coragem de escrever sua própria história, aquela que nunca ninguém lhe contou. Mas tinha medo de não saber dizer-se, de ser inexata ou infiel consigo, ou até de perder-se naquela descrição de sua fantasia, confundindo-se com suas palavras e tornando-se aquilo que escrevesse. Também não sabia onde era o começo da história, já que no começo ela era tão pequena que não entendia nada, nem sabia que tinha começado. E sentia calafrios de pensar que a história devia ter um fim. Achava que a única forma de evitá-lo seria continuar escrevendo eternamente, sem nunca poder parar, mas isto também daria uma canseira danada. Podia acontecer de falhar sua memória, esquecer-se de alguma parte importante, e se esquecesse, como saberia então que era importante? A menina, afinal, resolveu pedir ajuda. Juntou sua trouxa e pôs-se a refazer os caminhos por onde passara, pedindo a cada pedra, cada arbusto, cada buraco da estrada, que lhe contasse como a havia conhecido, procurando cada espelho para saber o que havia dela refletido. E quanto mais respostas encontrava, mais percebia que nenhuma encaixava com a outra, como num quebra-cabeça. Entendeu que seria preciso muitas histórias para contar o que se passa com uma pessoa só. E então seus olhos ficaram ensolarados, sua cabeça cheia de pássaros, e ela se sentiu possuidora do tesouro mais valioso do mundo: a incrível liberdade de ser imperfeita.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

presságio

Sinto que a inspiração está chegando, paulatinamente, e querendo se demorar.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

devaneios de zeca baleiro

é mais fácil cultuar os mortos que os vivos
mais fácil viver de sombras que de sóis
é mais fácil mimeografar o passado
que imprimir o futuro
não quero ser triste
como o poeta que envelhece
lendo maiakóvski na loja de conveniência
não quero ser alegre
como o cão que sai a passear com o seu dono alegre
sob o sol de domingo
nem quero ser estanque
como quem constrói estradas e não anda
quero no escuro
como um cego tatear estrelas distraídas
amoras silvestres no passeio público
amores secretos debaixo dos guarda-chuvas
tempestades que não param
pára-raios quem não tem
mesmo que não venha o trem não posso parar
vejo o mundo passar como passa
uma escola de samba que atravessa
pergunto onde estão teus tamborins
sentado na porta de minha casa
a mesma e única casa
a casa onde eu sempre morei
a casa onde eu sempre morei

domingo, 6 de janeiro de 2008

alicerce

"Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro."
(Clarice Lispector)