terça-feira, 23 de novembro de 2010
gimme a break
Pagaria caro por uma boa dose de amnésia. A história é implacável com a consciência, e a realidade é implacável com a fantasia. Por isto eu a ignoro. A realidade, é claro.
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
o fim
Que sono triste o sono dos teus olhos
cerrados ao peso de uma morte não-chorada
de uma dor subterrânea e coberta de desistência
Que sono triste o sono dos teus olhos
de um torpor amargo, indigesto
alheio à passagem do tempo e sem desejo de horizontes
Tenho rezado com a fé que não possuo
para que desperte esse sol da tua aurora
e as cores da tua alma insone que,
pouco a pouco, desaprendeu a sonhar
Nutrir-te com meu amor já não posso:
ele se torna fel em teu peito refratário!
Que inexplicável repulsa criaste ao meu brilho,
que brutal tornado arrancou-nos de nossos corpos tão saciados?
Que sono triste ao que penso em me entregar
quando já não me vejo nos teus olhos
nem mesmo de relance...
quarta-feira, 7 de julho de 2010
Lista:
- Adoro as pessoas que sabem observar a beleza das pequenas coisas, o que é completamente diferente de uma benevolência forçada;
- Adoro que alguém diga que eu pareço mais magra;
- Adoro eleger paixões platônicas e ficar escrevendo para elas, dedicando-lhes fartas horas de devaneio e porno-romance;
- Adoro o fato de alcançar um estágio tal de auto-aceitação que me possibilita escrever livremente uma lista de coisas que adoro sem me preocupar que isto resulte literariamente medíocre e tedioso;
- Adoro rir da minha própria estupidez;
- Adoro surpreender as pessoas que adoram pensar que, com meia dúzia de referências a meu respeito podem prever minhas ações;
- Adoro o fato de nunca ter tido tribo e me sentir pertencente a todas elas;
- Adoro pensar que alguém vai ler meu blog e achar bacana;
- Adoro ouvir uma amiga me dizer que as minhas palavras são um colinho para a alma;
- Adoro a sensação de desconcertar um bonitinho que não sabe como lidar com uma mulher que não babe o ovo dele;
- Adoro a luz do sol atravessando os furinhos da veneziana e projetando bolinhas na parede escura;
- Adoro saber que as ondas sonoras de uma música que adoro se relacionam fisicamente comigo;
- Adoro não ter mais medo de ser agressiva;
- Adoro sentir medo vendo filmes de terror;
- Adoro ficar sob a água por longas horas;
- Adoro o surrealismo das situações da minha vida, apesar de ela ser bastante comum;
- Adoro me entender com pessoas muito diferentes e me sentir socialmente eclética;
- Adoro saber que as melhores coisas da vida acontecem totalmente idependentes do nosso controle;
- Adoro rir de uma piada infame que ninguém entenda;
- Adoro quando alguém entende uma piada infame e ri comigo;
- Adoro o inusitado;
- Adoro pessoas desinteressadamente gentis;
- Adoro quando alguém chora ao meu lado e me considera digna de compartilhar da sua fragilidade;
- Adoro pessoas;
- Adoro idiossincrasias;
- Adoro admirar o brilho nos olhos de alguém exercendo a sua criatividade;
- Adoro as sardinhas dos meus ombros;
- Adoro me permitir falar muita bobagem sem medo do julgamento alheio;
- Adoro o som de saltos no paralelepípedo de uma rua tranqüila ao nascer do dia;
- Adoro ficar olhando o mar e imaginando o que haverá lá no fundo;
- Adoro quando a verdade vem à tona;
- Adoro pensar que existem muitas, muitas verdades;
- Adoro problematizar;
- Adoro o calor do meu gatinho ronronando no meu ombro;
- Adoro pensar que adoro tantas coisas para colocar numa lista...
- Estou me sentindo feliz. Talvez outro dia eu escreva uma lista das coisas que odeio.
quarta-feira, 3 de março de 2010
o menino sulfuroso
- Conheçam o menino sulfuroso
- que vem abrindo vales com os calcanhares
- que refazem cem vezes o mesmo caminho
- para diferentes lugares
- Seu espírito a se derramar
- corrosivo sobre as criaturas
- que insistem em existir
- decompondo-as em mínimas partes
- destituindo-as de importância
- reduzindo-as a ruínas
- corrompendo-lhes a lógica
- e dissolvendo-lhes o verniz da aparência
- O menino sulfuroso, quando destrói, se ilumina
- de desespero
- e de gozo
- Escoa a dor que, calada, lhe consome os nervos
- e espirra no mundo a fúria que lhe estrangula
- o deslocado coração maior que o peito
- Anda com pressa de não chegar ao fim
- com passos largos de desdém pela estrada
- com dentes de arrancar raízes e uma âncora na cabeça
- O menino sulfuroso anda só
- com uma incurável saudade de si mesmo
- com sal nos olhos e punhos em guarda
- retesando os músculos que lhe sustentam os sonhos
- e despistando a lava que lhe inflama a alma
- É sabido, todavia, que no escuro mais silencioso dos olhos
- ele cria céus de aurora boreal e violetas
- monta notas musicais
- e ainda cavalga esperanças de aço.
- -Deixa eu ver essas unhas, dá aqui!
- -Não...
- -Anda, criança! Deixa de ser idiota!... Hum... Mas que imundície... Hahahahah! Tem um porquinho aqui!... Me faz o favor, tá? Não vai querer parecer uma sujeira ambulante. Preciso falar de novo?
- -Não.
- A lágrima pesada, rola insolente pelo rosto duro e diminuto. A mão suja esfrega e seca. A passos decididos, anda na direção do lavabo, esmigalhando os tocos de giz de cera e o desenho no chão. Um pé arrasta parte da folha, rasgando a montanha. O sol, amarrotado, por de trás, sorri torto para a árvore solitária, azul piscina.
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010
COME WANDER WITH ME
Uma das coisas mais assustadoras de se ir até lá é o risco que sempre corremos - ainda mais nós, que temos esta forte inclinação - de não saber voltar.
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