sexta-feira, 30 de novembro de 2007

silêncio...

Estou tentando ouvir meu coração.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Life is tasty!

Hoje me disseram que a origem da palavra sabedoria vem de um derivado de sapor (sabor, em latim), que é a expressão sapere, que quer dizer provar, saborear. Diferente do conhecimento teórico, a sabedoria pressupõe experiência. É preciso saborear a vida.
Reminiscências das minhas aulas de latim:
"Dulcîa non merûit qui non gustavit amara." (Não merece o doce quem não experiemntou o amargo)
A etimologia tem seus encantos...

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

...

Branca dose de despertar, sintética semente de claridade, promessa de paz que circula em minhas veias, para onde estou indo agora? Que continente é este para onde me devolves, que terra úmida é esta sob meus pés alados? Terei de reaprender tudo, é verdade. Sempre fui aquela a regar erva-daninha e a olhar com desprezo para os lírios que, tão exigentes, só florescem sob condições ideais.
Quero saber se existe vida após a vida. Se depois de muito labor, ao comemorar minha colheita me embebedando de alegrias e gozos e glórias ainda acharei o caminho desse exílio dos meus pensamentos, onde me atiro como de um trampolim na garganta dos meus pesadelos e deixo transbordar as falas dos fantasmas que, sem procurá-las, me encontram.
Não quero boas idéias, mas a experiência. Sem me abandonar a ela tudo é falso artifício, frágil tessitura de engodos e enfeites para agradar aos olhos dos famintos de alma. Não quero ludibriar meus sentidos com fantasias copiadas de folhetins. Se preciso for, estarei em carne viva, buscando sempre me tornar aquilo que temo, que seja este então o meu compromisso, este o meu respiro, este o meu lugar à sombra...

domingo, 25 de novembro de 2007

Blindex

Sou séria, muito séria. Tudo que vai ouvir de mim é muito coerente, apropriado e pertinente. Nem doeu e eu nem queria mesmo...

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Bendita Clarice

Estou sentindo uma clareza tão grande que me anula como pessoa atual e comum: é uma lucidez vazia, como explicar? Assim como um cálculo matemático perfeito do qual, no entanto, não se precise. Estou por assim dizer vendo claramente o vazio. E nem entendo aquilo que entendo: pois estou infinitamente maior que eu mesma, e não me alcanço. Além do que: que faço dessa lucidez? Sei também que esta minha lucidez pode-se tornar o inferno humano - já me aconteceu antes. Pois sei que - em termos de nossa diária e permanente acomodação resignada à irrealidade - essa clareza de realidade é um risco. Apagai, pois, minha flama, Deus, porque ela não me serve para viver os dias. Ajudai-me a de novo consistir dos modos possíveis. Eu consisto, eu consisto, amém.
(Clarice Lispector)

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

caleidoscopia

Quero apreender quem eu sou neste instante, para encontrar-me em seguida no depois.
Depois será alvorescer irreversível, devir irrefreável, rio sem fim.
E minhas antigas partes desintegradas se procurando em vão, formando já outros desenhos, outras cores...
Ah, quanto medo desta primavera!

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

delicado resgate

Despertei de uma inconsciência má para encontrar-me naquele aposento cheirando a pão assado e alfazema, com poucos objetos e a calidez suave da sua presença. Antes de sobressaltar-me e tentar compreender o que estava fazendo ali, talvez por já ter desistido de qualquer luta e me rendido aos caprichos do destino, corri meu olhar ao redor, senti a aspereza da banheira enferrujada e a brandura da água que me cobria, acordei meus ouvidos com o cricrilar dos insetos, e observei-a por um momento na sua magestosa simplicidade.
Tinha uma beleza puída pelo tempo, sem artifícios, contida em si mesma com exatidão. Não havia promessas em sua graça, nada além do que se mostrava ali, e por sua singeleza tornava-a ainda mais solene.
Banhava-me como se banha uma criança: com todo o zelo e nenhuma malícia. Tinha ainda por descuido algumas folhas de outono enredadas no apanhado do coque.
Levantou-se com a leveza do vento e andou até o guarda-louças, imprimindo pegadas d'água no assoalho rangente, com um gato a costurar o caminho por entre seus tornozelos. Ao afastar-se senti um lampejo de solidão, coisa que não me costuma acometer. Trouxe consigo o jarro cheio para derramar sobre meus ombros, e tão logo a água me caiu às costas senti rasgar-me a pele a ferida ainda aberta, o talho fundo de uma vingança imerecida, a marca de uma batalha inútil da qual não tinha medalhas para ostentar. Sufoquei um grito em meu próprio deslumbramento ao encontrar seus olhos imensos como a noite, e a forma como lhes emolduravam as grossas pestanas. Olhava-me com seu rosto austero, sem dizer palavra.
Perturbou-me pensar no estado em que me encontrara, encharcado do fel da derrota, de sangue e poeira. Minha jornada foi tão longa, pensei, e não podia adivinhar por que atalhos recônditos desse caminho teria chegado àquela morada, àquela sorte, aos seus cuidados tão pios, àquele leito de mistério e benevolência.
Para lavar-me os cabelos o fazia com firmeza, seus dedos riscando com vigor meu couro cabeludo, como se cavasse com as unhas meu baluarte de falsas e penosas certezas e plantasse em seu seio um grão de fresca esperança, mergulhando-me num misto de aleluia e torpor. Recebi com acanhamento esta intimidade, até que deixei meus olhos se fecharem e a luz boa daquele cômodo convergiu em espessa treva.
Sabia-me tão seguro que nem mesmo por meus pesadelos poderia me ver assombrado. Queria guardar num cofre aquele sentimento, pendurá-lo fora do alcance das horas, saboreá-lo aos pedaços, reter algo dele para o futuro. Sua imagem sublime iluminada pela clarabóia fazia eco em minhas lembranças, mas já não podia dizer se era estranho aquele rosto, que julgava desconhecido, mas tão familiar. Sabia, contudo, com a clareza com que se sabem as verdades tácitas e os segredos mais valiosos: eu estava, finalmente, em casa.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

O mundo oculto que reside nas pequenas coisas do cotidiano

O que é verdade e o que é ficção...? Isso não é pergunta que se faça! Como diria o intrépido cowboy fitando o bandido indócil: a alma é o segredo do negócio...

Dalila

Nada que eu possa perceber neste universo iguala
o poder de tua intensa fragilidade cuja textura
compele-me com a cor de seus continentes
restituindo a morte e o sempre cada vez
que respira
Não sei dizer o que há em ti que fecha e abre
só uma parte de mim compreende que a voz dos teus olhos
é mais profunda que todas as rosas
Ninguém
nem mesmo a chuva
tem mãos tão pequenas.
(E. E. Cummings)

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Ah, pobre vaidade de carne e osso chamada homem!
(Fernando Pessoa)

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

-Posso te servir mais chá?

-Por quê toda essa afobação, essa pressa de fazer coisas? Fica aqui.
-Aqui? Aqui, mesmo?
-É. Aqui do meu lado.
-Mas é muito. Me intoxica. A não ser que eu te ignore, que eu não responda às vibrações da tua presença, que eu fuja para dentro de mim. Não posso mais querer, preciso ouvir os pássaros... Sabia que há mais de 40 espécies diferentes aqui? E este espelho d'água que não se abala por nada, nem quando os peixes saltitam e brincam perto da margem. É tão quieto! Acredite, eu queria... Mas é tanta a turbulência... Se ao menos eu estivesse infeliz!
-Não entendo. Você queria estar triste?
-Não.
-Não está feliz aqui?
-Estou. E isto é perigoso...

ad finitum

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Não quero forma, molde, moldura... só correr no leito das ondas do Adagio de Albinoni.